2h da manhã. Olhei para o ponteiro e o vi
caminhando lentamente. Senti o frio da madrugada invadindo meu quarto. Tocando
minha pele, arrepiando-a. Estava olhando para o teto, comecei a ver o universo
girando e conduzindo este mundo. Pensei em como as pessoas agem umas com as
outras. Oh! Que mundo cruel. Que abismo profundo. Estrelas vagam sozinhas e,
ainda sim, permanecem brilhando por um longo período. Mas se olharmos para o
céu escuro, veremos que não estão sozinhas, embora uma imensa escuridão esteja
entre elas. Levantei da cama e fui à cozinha. Caminhei até o bar e busquei um
gole de vodka. Era tudo que eu realmente precisava para aquecer meu corpo.
Costumava ter outra opção para aquecer-me. Gostava quando tinha sua companhia,
gostava do som que tinha nesta casa, gostava do cheiro de shampoo que tomava os cômodos quando saía do banho. Gostava das
nossas brigas que, depois, faziam a nossa química explodir. Quando eu te
agarrava pela cintura e te jogava na parede colando meu corpo ao seu, sentindo-o
respirando. Nossos lábios uniam-se de tal maneira que a nossa volta não existia
mais.
3h da
manhã. Oh, que noite fria! Muito fria. A bebida desceu garganta adentro
queimando a carne interna a cada gole. Onde mora a saudade? Não sei, talvez,
aqui nesta casa, nesta cozinha, nesta alma. Queria saber o motivo que a fez
partir. Pois, ainda, é complicado ter que me acostumar com este silêncio
perturbador. Agonizante. Agora sim, também, sinto falta das músicas altas que
colocava quando estava limpando a casa. Suspirei. Olhei para a garrafa em cima
da mesa e vi meu reflexo débil olhando-me. Meu corpo paralisou-se. É normal ter
que me embriagar todas as noites? Afogar-me em lágrimas que cortam meu rosto. É
normal ter que fugir de toda esta insanidade. Dizíamos um para o outro o quão
éramos fortes. O quanto poderíamos aguentar qualquer coisa. Ah, se pudesse
voltar no tempo. Sem dúvidas, iria dar um soco em meu rosto imaturo e acordar
daquele maldito sonho.
4h da manhã. Parei na janela e observei o
céu em negrito. Olhei para as casas, quase todas com as luzes apagadas, os
gatos miando e brincando ou em algum ritual de acasalamento. Novamente o mal
venceu. Somos medíocres que apenas pensamos em nós mesmo. Somos filhos do
egoísmo que alimenta nossos desejos, impedindo-nos de mudar nosso ser.
Acolhemos nossos vícios dentro de nós mesmos. Esquecemos que a vida passa e, no
fim, não sobra nada, apenas cacos de vidro, pó e cinzas. O tempo é relativo.
Caí em uma estúpida alucinação. Meu corpo vagava pela noite sombria a procura
de qualquer indício seu enquanto minha mente permanecia imóvel dentro de casa. Procurava
por qualquer rastro, qualquer vulto que seja. Invadia as ruas, parando por
esquinas e bares, em meio a conversas vazias e sem espírito. Sem paixão. Conquistava
mulheres, saía com elas, mas no fim, acabava com perguntas na mente do tipo:
quem você pensa que está enganando? Achas que vai encontrar uma substituta para
sua luxúria? Para luxúria sim, para tapar o poço em meu peito talvez não.
Trágico.
5h da manhã. Voltei para onde nunca devesse
ter saído. Pois, não é nada interessante ter uma vida resumida a isso. O ciclo
novamente retorna ao seu lugar. Minhas mãos geladas e trêmulas fazem eu me
sentir morto por fora e por dentro. O fracasso persegue-me como um lobo faminto
e a única coisa que posso fazer é correr o mais rápido que posso. Caminhei pela
casa, passei pela sala. Após meia garrafa, o álcool percorria em meu corpo, e
eu percebia seu efeito. Senti vontade de chorar, mas não chorei. Senti vontade
de fugir, mas não fugi. Senti vontade de morrer, mas não morri. Senti vontade
de tê-la mais uma vez, mas não a tive. E agora? Fui subindo as escadas até
chegar à porta entreaberta. Caminhei em meio à escuridão misturada com o leve
brilho da lua cheia. Deitei na cama e adormeci.
2h da manhã. Olhei para o ponteiro e o vi
caminhando lentamente. Senti o frio da madrugada invadindo meu quarto. Tocando
minha pele, arrepiando-a...